Cardeal de Teerã: escalada ‘levanta temores do pior’, não há paz ‘sem justiça’
Por Comunicação
Publicado em 23/06/2025 07:33 • Atualizado 23/06/2025 07:34
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A guerra nos céus do Irã e Israel: ataques e contra-ataques com mísseis, foguetes e drones e sua interceptação (AFP or licensors)

O cardeal Dominique Mathieu compartilha com Asianews o segundo relato de seu "diário de guerra". No último final de semana, a entrada dos EUA no conflito. A sucessão de ataques e contra-ataques "faz temer o pior, levando a crer que não há mais limites, que tudo é possível e justificável". "Expor o corpo eucarístico de Jesus sob o rugido das saraivadas de tiros restabelece o silêncio na mente e mostra que, mesmo que o mar esteja agitado, Ele está a bordo e acalma a tempestade".

Por Cardeal Dominique Joseph Mathieu, arcebispo de Teerã-Ispahan dos Latinos

No décimo primeiro dia da guerra:

Antes do amanhecer, você é acordado pelo barulho ensurdecedor de aviões de combate e drones que lançam suas bombas, e pelas explosões impressionantes da defesa aérea empenhada em interceptar. Você se acostuma a adormecer novamente, sem realmente conseguir descansar.

A primeira coisa que se faz depois de se levantar é subir ao terraço para observar a fumaça, que indica os locais bombardeados. O outro ritual é destrancar a porta da frente e dar uma olhada na rua, vazia de carros e pessoas de uma ponta a outra, exceto por um gato magro em busca de carinho e algo para comer.

A maioria das lojas está fechada, à exceção de alguns armazéns e padarias, onde é possível se abastecer a preços que aumentam a cada dia.

Os dias não tem o mesmo ritmo de antes. Longos silêncios, nos quais o menor ruído desperta o medo de um novo ataque, questionam as mentes sobre quando realizar algo ou não.

Em nossas mentes estamos preocupados, como os discípulos a bordo do barco com Jesus adormecido, que lutam em meio à tempestade contra a água que ameaça afundá-los. Pergunta-se do porquê Jesus parece estar ausente, especialmente agora que os elementos estão à solta. E, no final, acabamos sacudindo-o para acordá-lo, para que faça alguma coisa. No barco, que é a Igreja, Ele nos recorda que está presente. Expondo seu corpo eucarístico sob o rugido das saraivadas de tiros, restabelece o silêncio na mente e mostra que, mesmo que o mar esteja agitado, Ele está a bordo e acalma a tempestade.

O Senhor é a única conexão estável, que devemos alimentar com a oração, para não sucumbir às seduções do mal, que inunda a linha de medos e preocupações e nos faz afundar. Não disseram os discípulos: "Mestre, não te importas que pereçamos?" (Marcos 4,38).

A escalada surreal de ataques e contra-ataques, assistida por aliados para alguns e cúmplices para outros, em locais extremamente sensíveis, nos faz temer o pior, levando-nos a crer que não há mais limites, que tudo é possível e justificável, como "obter a paz pela guerra". A paz, porém, não significa reduzir ao silêncio por medo. A paz se alcança pela resolução pacífica de conflitos, trabalhando pela justiça, pela reconciliação e pela dignidade humana.

"Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus" (Mateus 5,9). A paz é um fruto do amor e da misericórdia. Para resolver conflitos e promover a paz, devemos seguir o caminho da não violência e do diálogo. Temos fé em Jesus, que repreende o vento e as ondas, que se acalmam, restaurando a calma? (Lucas 8,22-25). É por isso que o Papa Leão XIV clama pela paz - calma e ordem - pedindo: "Que a diplomacia faça calar as armas!".

FONTE: Vatican News

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